"Chega uma hora que o Estado tem que agir”, diz ex-delegado após moção da UFSM sobre operação policial no Rio de Janeiro

Foto: Renan Mattos (Arquivo Diário)

Arigony defendeu combate a problema estrutural da segurança pública

O ex-delegado e diretor da Ulbra Santa Maria, Marcelo Mendes Arigony, analisou nesta terça-feira (11), no Bom Dia Cidade da Rádio CDN, a repercussão da moção de repúdio aprovada pelo Conselho Universitário da UFSM em relação à operação policial que resultou em mais de 100 mortes no Rio de Janeiro. 

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Durante a entrevista, Arigony, que atuou por 25 anos na Polícia Civil e há duas décadas é professor de Direito Penal, afirmou ter acompanhado a repercussão da moção e destacou a importância da pluralidade dentro das instituições de ensino.

— A Universidade Federal de Santa Maria deve ser um campo plural. Nós devemos ter nas nossas universidades todas as ideologias. Não cabe a mim criticar o papel da universidade no sentido de emitir ou não essa nota. O que eu posso fazer é analisar a operação sob a lente de quem viveu 25 anos no combate ao crime — disse. 



"Não tem como festejar uma operação policial com mais de 100 mortos"

Arigony explicou que a violência nas periferias é resultado direto da ausência histórica do Estado, mesmo em Santa Maria.

— Temos na cidade um núcleo central e uma periferia muito pobre, diversas áreas de vulnerabilidade onde o Estado não chega realmente. E quando eu digo isso, não é uma crítica a governos, é um problema estrutural do Brasil. Falta educação, saúde, urbanização, falta empoderar essas comunidades para que caminhem pelas próprias pernas. E aí o estado paralelo chega, como tomou conta no Rio, e chega aqui também — afirmou.

Segundo ele, a escalada da criminalidade é fruto dessa omissão prolongada e da falta de políticas públicas integradas.

Chega uma hora que o Estado tem que agir. Mas só chegou nesse ponto porque houve omissão. Falta política pública de segurança e de várias áreas. As pessoas pedem mais polícia, mas segurança pública está dentro de um guarda-chuva maior — avaliou.

Mesmo reconhecendo a necessidade de ações estatais, Arigony reforçou que a violência não deve ser motivo de comemoração.

Não tem como festejar uma operação policial com mais de 100 mortos. Mas o policial é gente como todos, tem família, sai de casa para trabalhar e quer voltar vivo. Ele não quer matar ninguém e também não quer ser morto. Não podemos demonizar os policiais por isso — afirmou o ex-delegado, que lembrou que a população das comunidades, em sua maioria, é formada por pessoas trabalhadoras que sofrem sob o domínio do tráfico.

Ao comentar sobre o sistema penal, Arigony criticou o que chamou de “populismo penal”, o aumento de penas sem efetividade prática, e apontou o sistema prisional como um dos principais gargalos da segurança pública.

Faz mais de 50 anos que a gente fica criando crimes e aumentando penas, e isso não resolve. O nosso problema não é pena, é execução penal. O preso tem que cumprir a pena com dignidade, mas tem que cumprir. O que não pode é estar dentro da cadeia aplicando golpes pelo celular”, argumentou.

Para o ex-delegado, o enfrentamento da violência exige uma abordagem de longo prazo e duas frentes principais: investimento em políticas sociais nas periferias e reestruturação do sistema prisional.

— Nós precisamos atuar em duas mãos: chegar com o Estado onde ele nunca chegou e reorganizar o sistema penal para que funcione de verdade — concluiu.


Confira a entrevista completa

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